sábado, 31 de janeiro de 2009

Personagem do sábado - Luiz Antônio

Amigos, chego em casa do Maracanã, após a vitória de 3 a 0 do Fluminense sobre o Resende, e já me ligam perguntando quem terá sido o personagem do jogo. "Foi o Tartá", vocifera um grande amigo. "Entrou para mudar o jogo!". Ele tem toda a razão: o Tricolor deve a vitória ao Tartá, que mais uma vez jogou muito bem. Já outro exige que seja René Simões, o técnico pó-de-arroz. "Ele acertou nas substituições!". Verdade, acertou. Porém, acertar nas substituições significa errar na escalação. As entradas de Tartá e Maicon foram acertadíssimas, sim. Mas René teria muito mais mérito se os tivesse escalado como titulares. Caro treinador do mais amado do Brasil: errar é humano, mas persistir no erro é burrice. Se o menino Tartá não começar jogando contra o Duque de Caxias, me sentirei na obrigação de questionar o seu trabalho. Uma amiga me escreve dizendo que o personagem do sábado foi ela mesma. Argumenta que não foi aos primeiros jogos, e que seu pé quente foi o responsável pelo triunfo de hoje. Pode ser, mas isso não a eleva à categoria de personagem da partida. "Então quem é o ilustre?", perguntam vocês.

O meu ilustre personagem se chama Luiz Antônio. Nome completo, para não deixar dúvidas: Luiz Antônio Silva dos Santos. Foi só recomeçar o futebol tupiniquim, e já apareceu de novo o juiz-ladrão. Amigos, o que esse soprador de apito fez no primeiro tempo foi inacreditável. A primeira trapalhada foi em lance do atacante Roger, camisa 9 tricolor. Ele chegou à bola antes de zagueiro e goleiro, e foi claramente derrubado dentro da área. E o juiz deu escanteio. Ah, Luiz Antônio...

Porém, a chance de Luiz Antônio se redimir do erro veio logo em seguida. O zagueiro tricolor Edcarlos cabeceia, e um jogador do Resende corta a bola com a mão. Pênalti? Não para o Luiz Antônio. A jogada segue, e o volante tricolor Fabinho faz uma falta que passaria despercebida, se o Luiz Antônio não tivesse expulsado o camisa 8 pó-de-arroz. Sim, após deixar de marcar dois pênaltis clamorosos a favor do Fluminense, ele ainda expulsou injustamente um dos onze tricolores. Tudo isso em apenas quarenta e cinco minutos.

Abre parêntese para uma observação. Juízes são seres humanos, passíveis de errar, como eu e você erramos de vez em quando. O que me estranha nesses jogos do Campeonato Carioca é que os erros são repetidos, e sempre contra o mesmo time durante um jogo. Juízes normais erram para os dois lados. Os do Carioca, não. Na primeira rodada, o Friburguense foi prejudicado diante do Flamengo. Escandalosamente prejudicado, diga-se de passagem. Na segunda rodada, o mesmo Flamengo teve dois pênaltis inexistentes assinalados a seu favor, contra o Bangu. Já no primeiro tempo de Fluminense x Resende, o senhor Luiz Antônio parecia estar em uma cruzada contra o Fluminense e a favor do Resende... Fecha parêntese.

A torcida tricolor presente no Maracanã, então, se fez ouvir. Gritos unânimes de "ladrão", "vai morrer" e "Márcio Braga deu dinheiro pra você" ecoaram no Maior do Mundo. Luiz Antônio, ilustre personagem do sábado, teve que pedir escolta policial para descer aos vestiários. As ameaças da torcida tricolor fizeram efeito na mente de Luiz Antônio. Parecia até outro juiz o do segundo tempo! Aos 20 minutos, Bruno Leite, do Resende, fez falta dura no tricolor Jailton. Lance para cartão amarelo. E não é que Luiz Antônio tentou compensar seus erros do primeiro tempo, expulsando o pobre coitado do Bruno Leite?

Dez contra dez, pesou a maior experiência do Fluminense, além das já citadas substituições de René. Com gols de Luiz Alberto, Maicon e Leandro Bonfim, veio a primeira vitória do Fluminense. Que fique bem claro: a vitória veio, apesar da arbitragem ridícula do Luiz Antônio. Dois gritos dominaram a saída do Maracanã. O primeiro deles, de "ladrão", direcionado ao meu personagem do sábado. O segundo deles, eu explico no último parágrafo.

Antes disso, preciso deixar bem claro que as arbitragens tendenciosas dessa primeira semana me levam a começar a acreditar que o campeonato está sendo manipulado para que o Flamengo se sagre campeão. Aguardemos mais um pouco antes de acusações formais. Mas não posso negar que minha mente de apostador está exigindo que eu aposte alto no tri rubro-negro. E infelizmente isso não se deve a méritos em campo.

Agora, sim, posso explicar o segundo grito que dominou a saída dos torcedores do Fluminense do Estádio Mário Filho. "Thiago vai voltar!". Sim, amigos, o melhor camisa 10 dos últimos tempos vestirá novamente tricolor. Thiago Neves vem aí, e o bicho vai pegar! Se cuidem, adversários!

PC

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Empate insosso

Amigos, foi um jogo horrendo. Com menos fôlego que a Cabofriense, o Madureira não soube se aproveitar da falta de preparo físico do Fluminense. O tricolor suburbano preferiu garantir o empate a tentar a vitória. E assim empatou mesmo.

Meu Fluminense poderia ter vencido, apesar do cansaço evidente. Porém, os atacantes não souberam aproveitar as chances criadas. Roger, nosso novo camisa 9, até fez boas jogadas, mas não parece ter faro de gol. Enquanto isso, nosso ex-centroavante vai estufando redes paulistas...

Que decepção ver um empate. Já dizia o profeta que o empate nada mais é que a derrota dupla. Pior ainda é o empate sem gols: o zero-a-zero deixa a impressão de que o jogo terminou sem ter começado. Dá vontade de pedir meus quinze reais da meia-entrada de volta.

Nas arquibancadas, o ora endeusado técnico René Simões já é bastante criticado. A torcida tricolor está mesmo decepcionada, mas talvez seja cedo demais para vaias e críticas. Vale o puxão de orelha: René, o Tartá não pode ficar no banco. Ele ainda não é um craque, mas muda o jogo quando entra.

Que o empate de ontem tenha sido a moldura para a vitória de sábado. Se o Resende não for derrotado no Maracanã, a Taça Guanabara já terá ido para o brejo. Aguardemos.

PC

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A invenção do fair-play


Estive no Correão, em Cabo Frio, onde presenciei a derrota do Fluminense para a equipe local, na primeira rodada do Campeonato Carioca de 2009. Poderia escrever um texto sobre o jogo, mas este não merece mais que uma linha. A Cabofriense ganhou porque está mais bem preparada fisicamente. Estão treinando desde dezembro, enquanto os jogadores tricolores começaram sua preparação há quinze dias. Isso justifica os 3 a 1.

Vou falar de algo mais interessante: um relato precioso sobre um episódio da história do futebol, que foi enviado pelo Minoru, um dos sete leitores fiéis deste escriba. Trata-se da invenção do fair-play, o famoso "jogo limpo" pregado pela FIFA e pelos apreciadores do bom futebol ao redor do mundo. O jogo limpo foi inventado no Brasil, amigos! Melhor que isso: no Maracanã.

Transcorria um disputado Fluminense x Botafogo, pelo Torneio Rio-São Paulo, em 27 de março de 1960. Alguns dos maiores ídolos da história tricolor estavam em campo: Castilho, Pinheiro, Altair, Waldo e Telê, entre outros. O pó-de-arroz acabaria sendo o campeão do torneio. No lado do Botafogo, estava Garrincha, e somente isso já justificaria a presença dos 32.653 pagantes daquele jogo. Os dribles do Mané arrebatavam de emoção as multidões. Até os torcedores adversários se rendiam em aplausos.

Porém, nesse clássico-vovô de 1960, foi uma atitude louvável do Anjo das Pernas Tortas que chamou a atenção de todos. No início do segundo tempo, Pinheiro (do Fluminense) disputou uma bola com Quarentinha (do Botafogo), e caiu com distensão muscular. A bola sobrou limpa para Garrincha, que tinha o caminho livre para o gol. O que fez Garrincha, nesse momento sublime? Chutou a bola, de forma proposital, para a lateral, para que o zagueiro tricolor fosse atendido. O jornalista Mário Filho, nas tribunas, se empolgou: "é o Gandhi do futebol", exclamou ele.

O lance já teria sido belo e eterno se parasse por aqui. Porém, houve uma continuação épica, que mudaria para sempre o destino do futebol mundial. O tricolor Altair, encarregado da cobrança do lateral, simplesmente deixou a bola quicar. Ele percebeu que aquela posse de bola pertencia ao Botafogo, e não ao Fluminense. Assim, com esse gesto nobre, fez justiça com as próprias mãos. Todos no estádio entenderam a mensagem, e aplaudiram o lance.

Dessa forma, Garrincha e Altair inventaram o fair-play. O jogo terminou 2 a 2. "Tal partida não merecia produzir um perdedor", diz Ruy Castro, em seu livro 'Estrela Solitária - Um brasileiro chamado Garrincha'.

PC

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

2009 - o ano do tri

Amigos, estava escrito desde 40 minutos antes do nada: 2009 é o ano do nosso tri!

Explico minha visão: em 1970, Carlos Alberto Parreira era nosso preparador físico, e nós conquistamos nosso primeiro caneco nacional. Em 1984, com Parreira de técnico, veio o bi. Em 2009, o pé-de-uva está de volta, agora no cargo de consultor da Traffic, agindo como ponte entre a empresa e o Fluminense. E o óbvio ululante é que nós conquistaremos o tricampeonato.

Vale lembrar que, em 1999, na Série C, Parreira reapareceu, do alto da sua posição de campeão mundial, para nos conduzir de volta à elite.

O Tricolor estava apenas esperando o retorno triunfal do pé-de-uva, para novamente gritar "é campeão". Podem me cobrar no fim do ano: o pó-de-arroz será tricampeão.

PC

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Fluminense x Bangu de 1985

Amigos, ao Bangu bastava o empate. Ao Tricolor, somente interessava a vitória. Este era o panorama da finalíssima do Campeonato Carioca de 1985. 88172 pagantes se espremiam nas arquibancadas, cadeiras e gerais do Estádio Mario Filho, naquela noite de dezoito de dezembro de 1985.

O alvi-rubro comandado pelo técnico Moisés havia perdido, meses antes, a final do Campeonato Brasileiro, para o Coritiba, nos pênaltis. Era, portanto, um dos melhores times do país. Infelizmente, a decadência bangüense fez com que as equipes atuais não sejam nem sombra daquela da década de 80. O principal destaque do Bangu era o ponta-direita Marinho. Dono de um futebol moleque, cheio de dribles e com muita visão de jogo e espírito criativo, o camisa 7 desmontava qualquer esquema tático adversário.

E o que dizer do Pó-de-arroz? O Fluminense tentava o seu terceiro tricampeonato. Em 1919, Bacchi trouxe o primeiro tri, decidindo o Fla-Flu no campo do Flamengo, na Rua Paissandu. Em 1938, o Tricolor somou mais pontos que o Flamengo de Leônidas da Silva, e veio o segundo tri. Em 1983 e 1984, os dois gols de Assis nos Fla-Flu's decisivos abriram o caminho para o terceiro tri. Faltava apenas a vitória sobre o Bangu.

O Flu de Nelsinho começou escalado com Paulo Victor; Beto, Vica, Ricardo e Renato; Jandir, Renê e Delei; Romerito, Washington e Tato. Os desfalques de Aldo, Branco e Assis davam ainda mais dramaticidade ao desafio do Flu. Na reserva, havia Paulinho. O camisa 16, que tinha o apoio da torcida pó-de-arroz, já declarara que sairia do Flu no ano seguinte, porque queria ser titular.

O Bangu do técnico Moisés, por sua vez, estava completo: Gilmar; Perivaldo, Jair, Oliveira e Baby; Israel, Airton e Mário; Marinho, Fernando Macaé e Ado. O alvi-rubro tinha que aproveitar a vantagem do empate, para acabar de vez com a história de que nadava, nadava e morria na praia.

O árbitro José Roberto Wright deu início à batalha, e aos quatro minutos aconteceu um duro golpe para o Fluminense. Em falta pela direita, Perivaldo cruzou na medida e Marinho acertou a cabeçada certeira: 1 a 0 Bangu. O Tricolor, que antes precisava de um gol, agora precisaria de dois. Para piorar as coisas no quadro pó-de-arroz, Tato sentiu lesão, e precisou ser substituído ainda no primeiro tempo. Paulinho, o camisa 16 festejado pelas arquibancadas, entrou em seu lugar.

No início do segundo tempo, o Bangu assustava com seus contra-ataques, puxados pelo talento de Marinho. Mas o arqueiro tricolor Paulo Victor saía bem do gol, e evitava os gols bangüenses. O Flu continuava atacando, empurrado pelos gritos de "Nense" que vinham das arquibancadas. Num lance duvidoso, um zagueiro do Bangu cortou um chute do tricolor Renê com o braço. O juiz Wright não deu o pênalti, para desespero de Romerito, que levou cartão amarelo por reclamação. A torcida invocava o Papa João Paulo II, já começando a ficar desesperada. "A bênção, João de Deus..." Deu certo, porque veio o gol de empate. Paulinho achou Romerito no meio da área, e o paraguaio mandou pras redes, aos 18 minutos do segundo tempo. Com o empate, faltava apenas um gol para o tri do Fluminense. Mas a meia-hora seguinte seria dramática...

A torcida tricolor continuava a incentivar, mas o embate estava difícil. Os gritos de "Nense" não pareciam suficientes para derrotar o Bangu de Castor de Andrade. "A bênção, João de Deus...", Washington chuta, mas Gilmar defende! O técnico Nelsinho e o médico Arnaldo Santiago rezavam no banco tricolor. Das arquibancadas vinha o constante "Nense, Nense, Nense"! E o ataque pela direita acaba na trave! Dividida pelo alto na entrada na área, e falta de Jair em Washington. Pronto, ali estava a grande chance do tri! 31 do segundo tempo, Paulinho na bola. "A bênção, João de Deus...". Esse é o momento da foto que ilustra este texto.



A trajetória da bola foi perfeita: o destino foi o ângulo direito de Gilmar, que nem se mexeu. Nem adiantaria se mexer, aquele chute era indefensável. Foi o gol do tri! O terceiro tri! Foi de Paulinho, o herói que veio do banco, justo ele que sairia do clube por estar insatisfeito na reserva!



No fim, Cláudio Adão, que entrara no Bangu, com uma folhinha de arruda sobre a orelha, invadiu a área e caiu. Os bangüenses cercaram José Roberto Wright, esquecendo-se que ele já não marcara um pênalti para o Flu. Não houve alternativa: o juiz teve que encerrar o jogo. Explosão de alegria nas arquibancadas, gerais e cadeiras!

Essa foi a história de como o Fluminense se sagrou, pela terceira vez, tricampeão estadual. O personagem do jogo? Poderia destacar todos os tricolores, do goleiro ao ponta-esquerda. Mas é claro que o grande nome foi Paulinho. Do banco para a glória, esta foi a trajetória de Paulinho no Fluminense x Bangu de 1985.

Saudações Tricolores!
PC

Matéria do Globo Esporte:


Os melhores momentos do segundo tempo, incluindo os dois gols do Fluminense e os dois lances polêmicos:

domingo, 4 de janeiro de 2009

O estádio das Laranjeiras

Amigos, feliz ano novo! Que 2009 seja um ótimo ano para vocês, caros leitores! Meu primeiro texto do ano se refere a futebol, Fluminense, Seleção Brasileira e história. Se esses assuntos chamam a sua atenção, siga em frente, por favor.

A primeira notícia impactante do ano, para nós tricolores, tem um lado bom e um lado ruim. Parece que o presidente do clube, senhor Roberto Horcades, finalmente enxergou que o futebol profissional precisa de estrutura. Assim sendo, tomou a sábia decisão de transferir os treinamentos do Fluminense para o CT de Xerém. O recente sucesso do São Paulo FC, dono do melhor centro de treinamento entre os grandes clubes brasileiros, mostra que "estrutura" é a palavra-chave para quem quiser ser bem sucedido no futebol de hoje. E estrutura é coisa que a aristocrática sede das Laranjeiras não tem como fornecer. Portanto, nesse aspecto, o presidente merece aplausos, pois tomou uma decisão corretíssima.

Porém, a boa notícia traz junto de si um anúncio desagradável. O plano de Horcades é demolir o estádio das Laranjeiras, construindo no lugar uma área de lazer e estacionamento. Concordo que a área pode ser bastante útil para esses fins. Porém, sou obrigado a defender a história do futebol brasileiro. Aquele estádio, amigos, foi o primeiro do Brasil. Foi ali que a hoje consagrada Seleção Brasileira conquistou seu primeiro título - o Sul-Americano de 1919. Esse exemplo de pioneirismo do Fluminense não pode ser simplesmente demolido, dando lugar a "uma área de lazer e estacionamento". Na minha humilde opinião, o estádio ficaria lá. Com uma boa reforma (ela é necessária, conforme mostram as recentes fotos que ilustram esse post), ele poderia inclusive sediar jogos de menor importância e treinos recreativos dos profissionais.

OK, talvez não valha a pena manter o estádio. Talvez seja caro demais. Nesse caso, por que não construir no local o Museu do Fluminense? Esta é a humilde sugestão deste tricolor nato, confesso e hereditário. O que eu não consigo aceitar é a destruição de parte da história para a mera construção de uma área de lazer e estacionamento.

PC