terça-feira, 22 de maio de 2007

1000




Depois de um longo período sem escrever (longo mesmo), convivendo com o fantasma da “folha em branco”, eis que, finalmente, veio a inspiração! Novamente recorro ao mundo esportivo, dessa vez numa homenagem ao jogador mais importante que eu vi jogar: Romário. Antes de mais nada, só gostaria de dizer que quando comecei a acompanhar o futebol, o Maradona já estava começando a trocar a pelota pelas drogas, e portanto o Romário é o melhor jogador que eu vi em atividade. Não o mais habilidoso, mas o mais decisivo.



Sou um dos que pregam o lema de que o Baixinho ganhou a Copa de 94 praticamente sozinho. Não vivi os 24 anos de espera, nem o desastre da Copa de 90, mas lembro-me perfeitamente da emoção de ver o Brasil conquistar o Tetra nos EUA. Tudo por “culpa” daquele cara marrento, a quem chamam de “baixinho”, mas que é um gigante dentro da grande área (gigante mesmo, vide o gol que ele fez contra a Suécia!!!).



Depois dessa conquista magnífica, ele não precisaria ter feito mais nada na carreira para ser lembrado eternamente entre os gênios do futebol. Mas fez muito mais. Com raro oportunismo e com a língua afiada, ganhou desafetos, mas sempre deixou sua marca. Em gols e frases. Destaco aqui as melhores, na minha opinião:



“O Pelé de boca fechada é um poeta” – sobre uma declaração do Rei do Futebol sobre o Baixinho.


“Agora toda a corte está feliz: o rei, o príncipe e o bobo” – rebatendo uma frase do Edmundo na qual o rei (Eurico) favorecia o Romário (príncipe) em detrimento do Animal (bobo).


“Rei existem vários, qualquer um pode ser rei. Mas Deus, só tem um: eu sou Deus” – sobre o fato de Renato Gaúcho ter sido chamado de “rei do Rio” no Carioca do ano anterior.



Alfinetadas a parte, Romário pode não ser unanimidade, mas foi (e ainda é) um jogador muito importante para a História do futebol mundial. Torci muito para que ele fizesse o milésimo gol (só não queria que fosse contra o Mengão). Preferia que fosse no Maraca, o palco sagrado do esporte, mas o que importa é que ele fez o tão esperado gol 1000. Não importa se os gols foram ou não marcados como profissional. O que importa é que foram gols. E foram 1000! Acho que isso aumenta a paixão que temos pelo esporte (esporte no sentido amplo, não apenas o futebol).



Mais do que ver o milésimo gol do Romário, todos fomos espectadores de um momento histórico, que será lembrado por gerações, e reforçado quando alguém chegar perto da marca outra vez, como aconteceu com o Pelé.



Torci muito para que ele fizesse o milésimo, assim como torci para que o Michael Schumacher fosse heptacampeão vencendo todas as suas corridas há umas três temporadas atrás (quando ele venceu as cinco primeiras e a Ferrari era imbatível); assim como torci para ver o Mão-Santa Oscar jogar no Flamengo ao invés de encerrar a carreira; assim como torci para que Michael Jordan voltasse ao basquete, mesmo que fosse jogando pelo modesto Washington Wizards, com todo o peso dos anos em seus ombros. Torci, para que eu pudesse um dia contar aos meus filhos e netos que vi homens estupendos realizarem feitos gloriosos (como me era contado pelo meu pai). Como fazer o milésimo gol da carreira.



Parabéns Romário! E muito obrigado!!!


by rafs

terça-feira, 8 de maio de 2007

Futebol - A verdade sobre 1996

Meu propósito aqui é esclarecer o que aconteceu no futebol brasileiro em 1996. Onze anos depois, o ano é lembrado por todos como o ano em que o Fluminense “virou a mesa”, isto é, recorreu aos tribunais para não cair para a Segunda Divisão. Mas será que o Flu é mesmo o grande vilão da história?
Antes de mais nada, vou deixar bem claro: o time tricolor em 1996 era ridículo. Muito ruim, mesmo. Merecia o rebaixamento, por mais que nós, seus sofridos torcedores, não merecêssemos. Não estou defendendo aquele time deprimente, nem aquela diretoria mais deprimente ainda.
Relembrando os fatos: com os resultados em campo, o Fluminense terminou em 23º lugar, entre os 24 times participantes. Junto com o Bragantino (último lugar), seria rebaixado à Segunda Divisão em 1997. Porém, nesse ano estourou um escândalo no futebol brasileiro, o caso Ivens Mendes. Foi algo similar ao que aconteceu em 2006 na Itália: manipulação de resultados. Lá na Europa, coisas assim são punidas; nem mesmo os poderosos escapam. A Juventus e o Milan, os 2 maiores clubes italianos, foram severamente punidos; a Juventus foi até rebaixada.
Em 1996, escutas telefônicas comprovaram que o sr. Ivens Mendes, então presidente da Conaf (Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol), combinou resultados com os dirigentes de Corinthians e Atlético Paranaense. Isto é, o campeonato daquele ano estava comprometido. Evidentemente, Fluminense e Bragantino - os maiores prejudicados do campeonato - entraram na Justiça pedindo a anulação do mesmo. Em um país sério, Corinthians e Atlético Paranaense teriam sido rebaixados (no mínimo), e seus dirigentes banidos do esporte. (FYI, o sr. Celso Petraglia - então presidente do Atlético Paranaense - permanece no quadro diretor do clube até hoje).
Em resumo, o que deveria ter acontecido: Corinthians e Atlético-PR rebaixados por manipulação de resultados; Fluminense e Bragantino mantidos na Primeira Divisão, apesar de suas pífias campanhas. O que aconteceu? Corinthians e Atlético-PR não foram punidos...* mais um caso de impunidade em nosso país. O campeonato do ano seguinte inchou para 26 clubes, e ficou tudo por isso mesmo.
Portanto, houve sim “virada de mesa”. Mas o Fluminense não foi o vilão da história. A mesa foi virada por Corinthians e Atlético Paranaense. A mesa caiu em cima do torcedor, como quase sempre acontece no Brasil. Quem levou a culpa foi um inocente, como quase sempre acontece no Brasil. Os criminosos continuaram impunes, como quase sempre acontece no Brasil.
A Itália deve servir de exemplo. Às vésperas da Copa de 1982, um escândalo de manipulação de resultados foi severamente punido. A Copa foi vencida pela Itália. Coincidentemente, outro escândalo parecido estourou às vésperas da Copa de 2006, e também foi punido com rigor. Novamente, a Itália sagrou-se campeã. Esse tipo de punição só beneficia o esporte!
Escrevi especificamente sobre o futebol, mas vale para todas as áreas. A impunidade é a mãe dos crimes. Os criminosos se sentem incentivados a continuar agindo, se sabem que não serão punidos. É por causa da impunidade que nossos juízes e policiais são corrompidos, que nossos políticos nos roubam, que nossos bandidos estão cada vez mais ousados, que nossos presídios se transformaram em centrais de tele-marketing do golpe do seqüestro...
Acabei desviando do futebol, assunto inicial do texto. Desculpem meu desabafo!

* Na verdade, o Atlético-PR recebeu uma punição branda: perdeu 5 pontos no Campeonato de 1997.

Uma observação: mesmo brigando contra o rebaixamento, o Fluminense se recusou a ir ao tribunal para ganhar os pontos da partida perdida para o Santos, que escalara o colombiano Usuriaga de maneira irregular [caso citado aqui]. Mas isso os detratores preferem não lembrar...